Professores: como estimular a formação de alunos autônomos

Tempo de leitura: menos de 1 minuto

Adriana Pereira Santos

O professor é dispensável se os alunos são autônomos?

“I have never let my schooling interfere with my education.” – Mark Twain [Nunca deixei a escola interferir na minha educação.]

Meu último post foi sobre autonomia. O texto ressalta a importância do aluno aprender a andar com as próprias pernas. Hoje a conversa é com os professores. Se não for o seu caso, por favor, envie o texto para o seu professor ou sua professora de inglês ou ainda para os amigos que se interessam pela profissão. Obrigada!

alunos autônomos

Existe um conceito antigo, mas ainda muito arraigado no cenário acadêmico, de que o professor é autoridade máxima na sala de aula, o detentor e disseminador do conhecimento. Ele constrói o saber do aluno; indica o caminho a ser percorrido e avalia se o desempenho está dentro de parâmetros estabelecidos. Em suma, ele ensina. Os alunos estão ali para aprender. Para aqueles que se encaixam neste perfil, a ideia de alunos autônomos pode ser bastante assustadora.

Cf. Autonomia não é só para autodidatas

O receio de ter alunos independentes se baseia numa variedade de argumentos, todos eles infundados e extremamente prejudiciais para o desenvolvimento tanto dos estudantes quanto dos professores. Vejamos os principais:

1. Se os alunos não dependem do professor, ele perde seu status.

Conheci professores que diziam que nunca dariam uma nota máxima numa avaliação, pois essa era reservada para a perfeição, o que os alunos jamais conseguiriam. Outros se orgulhavam em dizer que haviam reprovado quase dois terços da turma. E ainda havia os que se gabavam de falar durante 100 minutos da aula, sem serem interrompidos uma única vez. Todos esses são mecanismos de controle. São maneiras de mostrar “quem é que sabe das coisas”. A pergunta que cabe aqui é: qual é o ensinamento por trás dessas atitudes? É inegável que muito conteúdo pode ser transmitido nessas aulas, mas há uma grande falha. O aluno não tem acesso ao processo de construção do seu próprio aprendizado.

2. O professor é a autoridade.

alunos autônomosImagine a situação: o professor propõe uma atividade e os alunos demonstram total desinteresse em executá-la. Cabe ao professor usar sua autoridade e garantir que a tarefa seja cumprida à risca, certo? Errado! Essa reação é uma maneira de o aluno externar, ainda que inconscientemente, que aquele tipo de atividade não é muito significativa para seu processo de aprendizado – muitas vezes, pode até mesmo ser irrelevante. Uma atividade vazia de sentido para o estudante provavelmente não servirá para a construção e consolidação do saber. O professor que interpreta os anseios dos alunos e procura aproximar o conteúdo acadêmico ao universo deles terá, de forma natural, maiores níveis de interação em suas aulas.

Cf. As palavras em inglês que você não precisa aprender

3. Medo de ser exposto por desconhecer algo.

Seja sincero: você sente um certo desconforto, vergonha até, ao responder “não sei” ao ser questionado pelos alunos? Pois não deveria! Desconhecer algo não é motivo para constrangimento, mas uma oportunidade de aprendizado. Essa é uma boa ocasião para estimular o aluno a buscar respostas por si próprio. Dessa forma, deixará de unicamente depender das informações que lhe são trazidas. Honestidade e transparência são essenciais nesse momento. Na próxima aula, você voltará com a resposta e o aluno aprenderá muito mais do que apenas conteúdo acadêmico. Aprenderá autonomia e honestidade, aprenderá a compartilhar e a confiar.

Não quero dizer, com isso, que é normal o “não sei” aparecer com muita frequência na fala dos professores. Claro que eles próprios devem vivenciar um processo contínuo de estudos e aprimoramento.

Cf. Como pesquisar no Google para esclarecer dúvidas de inglês

4. Alunos autônomos: cada um faz o que quer!

Este é, talvez, o maior engano de todos! O desconhecimento do que realmente constitui a autonomia do aluno faz com que muitos professores tenham receio desse panorama nas suas aulas, muitas vezes até agindo de forma a tolher as iniciativas independentes dos alunos. Na verdade, cada aluno faz o que quer, sim. Em toda e qualquer sala de aula! Pense nisso. O professor pode dar direções a serem seguidas, mas o aluno é quem, em última instância, decide se as seguirá ou não, e até que nível ele deseja se comprometer com o aprendizado. Por que não orientar esse poder de decisão para que o aluno descubra novas possibilidades e, de forma autossuficiente, resolva quais atendem da melhor forma suas necessidades?

Existe também o temor de que o aluno não mais precisará do professor. Bem… Sim e não! Ele desenvolverá a independência para pesquisar, praticar, descobrir novas áreas de interesse… Mas continuará tendo o professor como sua referência, como aquele que poderá oferecer ajuda, orientação e motivação.

Como estimular os alunos a desenvolverem sua autonomia?

Não é possível haver desenvolvimento da autonomia num ambiente onde prevalece o autoritarismo do professor ou no qual os alunos veem o professor como portador exclusivo do saber; pelo contrário, o professor tem a tarefa de convidar o aprendiz a “viajar” por um novo universo, trazendo elementos que o motivem e estimulem a sua curiosidade. O professor deve se questionar: o que o meu aluno quer? Do que ele precisa? O que o leva a realizar as tarefas propostas? Se ambos conhecem as respostas dessas perguntas, o caminho para a autonomia já começou a ser trilhado! O estudante poderá, então, participar ativamente da construção da sua rotina de estudos e da elaboração de estratégias para atingir seus objetivos. A partir daí, o professor deve interferir de forma provocativa, respeitando a liberdade, mas também oferecendo alternativas que respondam aos anseios de seu aluno. Dessa forma, todos passam a adotar uma postura pesquisadora, expandindo as chances de cumprir os objetivos inicialmente propostos e atingindo a satisfação dos anseios.

alunos autônomos

O questionamento é um dos mais fortes propulsores da ampliação dos conhecimentos do professor que trabalha num ambiente com alunos autossuficientes.

Cf. Tecla SAP no Google+

Autonomia em tudo!

Guardei a parte mais importante deste texto para o final: a autonomia deve ser desenvolvida não somente no estudo de uma língua estrangeira, mas em qualquer forma de aprendizagem. E, para isso, Jean Piaget nos deixou uma reflexão: “Não é suficiente preencher a memória de conhecimentos úteis para se fazer homens livres: é preciso formar inteligências ativas”.

Cf. Quem tem medo de feedback?

Cf. Irregular verbs: Como aprender os verbos irregulares

Cf. Sabotagem: não deixe que ela prejudique seu aprendizado de inglês

Speak up! We’re listening…

Eu adoraria saber o que você achou do artigo. Por favor, envie sua opinião para a seção de comentários abaixo. Se você gostou do texto, por favor, envie-o para quem leciona inglês ou outra disciplina. Não deixe de clicar nos ícones das redes sociais à esquerda para compartilhar conteúdo educacional com os amigos. Obrigada!

Referência

Se você gostou desta dica, que é a #90, vai adorar as outras 99 em Top 100 – As cem melhores dicas do Tecla SAP de Ulisses Wehby de Carvalho, ©Tecla SAP, 2014.

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Diogo Chagas
Diogo Chagas
8 anos atrás

me parece bem interessante a proposta de discorrer sobre a questão da autonomia dos alunos, embora me espante que ainda o seja necessário: estamos todos imersos numa rede em que tudo é almejável e alcançável! já passou do tempo de reconhecer que nós, professores, não somos centro de nada, e me parece que a grande questão agora é perceber que nesse processo todo, pensando aqui apenas no ensino de línguas, somos nós, professores, os alunos, que têm muitas vezes autonomias não percebidas como tal a princípio, e temos “aquele vídeo do youtube que viralizou”, “aquela ator que tá famoso”, “aquele personagem daquela série que é ótima”, etc. enfim, gosto da ideia do texto, gosto de saber que tem uma galera pensando nos alunos como seres autônomos (ou pelo menos com capacidade de), gosto da ideia de saber que essa discussão tá rolando e que temos espaço pra pensar o ensino de língua meio ao “meio técnico científico-informacional” (como diz milton santos)…

Fabiana
Fabiana
9 anos atrás

Adriana Pereira, parabéns pelo texto. Mas gostaria de saber se poderia me dar exemplos e ideias de como deixar os alunos serem mais autodidatas na prática, quando a falta de interesse por parte deles é exagerada. Tenho lidado com turmas que não querem saber de nada, não vêem a importância de aprender(qualquer assunto que seja) e não tem curiosidade. Tenho diversificado minhas aulas para despertar essa vontade neles, mas nada parece suficiente. Tanto na escola pública (bastante comum) quanto na particular, em um grupo preparatório para o ENEM, estou assustada com o “estado vegetativo” da maioria dos alunos…

Ulisses Wehby de Carvalho

Mauro, tudo bem?

Obrigado pelos elogios ao texto e ao blog. Agradeço em nome de toda a equipe do Tecla SAP. Valeu!

Abraços

Mauro Antonio dos Santos
Mauro Antonio dos Santos
9 anos atrás

I’m very well!
Thanks,

Regards.

Meryluci Silva
Meryluci Silva
9 anos atrás

Adorei a matéria. Considero a autonomia fundamental para o aprendizado.

Ulisses Wehby de Carvalho
Reply to  Meryluci Silva

Meryluci, como vai?

Obrigado pelo comentário. A ideia precisa ser mais difundida para que ninguém se iluda achando que vai aprender inglês passivamente. Volte mais vezes.

Abraços

Renata
Renata
9 anos atrás

Adriana, couldn’t agree more! Sou professora de inglês há muito tempo, sempre pensei que os alunos deveriam ser autônomos e que uma das minhas funções era promover isso, e foi só quando comecei a trabalhar com aulas individuais in-company que consegui colocar isso mais em prática, de uma forma muito gratificante. Estou terminando meu mestrado em Educação de Adultos, e minha pesquisa é justamente sobre como os professores lidam com a autonomia dos alunos em sala de aula, e como eles vêem seu papel como professores. Ótimo texto, obrigada por trazer este assunto tão importante à tona.

Adriana Pereira Santos
Adriana Pereira Santos
9 anos atrás
Reply to  Renata

Renata, obrigada pelo feedback! Que bom saber que há profissionais como você difundindo esta prática… Realmente, a experiência de ensino se torna muito mais recompensadora ao vermos nossos alunos se tornando autossuficientes. Sucesso no mestrado! Abraços.