McGurk: como o efeito McGurk melhora listening e pronúncia?

Tempo de leitura: 9 minutos

McGurk Effect by Ulisses Wehby de Carvalho

McGurk

Como o efeito McGurk ajuda a melhorar listening e pronúncia?

Hélio, halterofilista haitiano, herdou o hábito de homenagear heróis históricos húngaros. Heresia ou habilidade? Habitué de hospitais e hotéis, o homem hoje habita hospício no Havaí. Haja!

Não, eu não estou tomando medicação que altera meu grau de consciência! 😉 O parágrafo acima, que semanticamente não quer dizer absolutamente nada, tem o único propósito de chamar sua atenção para o fato de que nenhuma das palavras do trecho acima despertou em você a vontade de pronunciar a letra “H”. Assim espero… 😉

Assim como todos que fomos treinados desde a cartilha – a do vovô viu a uva, lembra? – a associar uma letra a um som que será reproduzido na fala, estranhamos a princípio o fato de precisarmos escrever uma letra que não seria pronunciada. Quem nunca se perguntou para que serve o “H” não teve infância… 😉

mcgurk

Fast forward

Clique no botão fast forward do filme de sua vida para ir da cartilha em português até as primeiras aulas de inglês. Umbrellabegin, name, nice, Wednesday, meet etc., não importa quais foram as primeiras palavras que você aprendeu, mas logo de cara você notou que o som que deveria reproduzir na fala eram bem diferentes daqueles que você havia aprendido em português. E o “H” em hot, hello, high, house etc.? Quem conseguiu falar hotel hospital em inglês aspirando o “H” logo de cara? O apelo visual daquele “H” no papel, seja a palavra grafada em português ou em inglês, nos remete ao treinamento da cartilha, ou seja, é como se a voz de sua professora surgisse do além e dissesse: “Não pronuncie o ‘H’, Heitor! Não pronuncie o ‘H’, Heitor!”. Estou supondo que o seu nome seja Heitor para o exemplo ficar mais autêntico, ok? E o nome da professora, qual é? Helena, lógico!

E o efeito McGurk?

O que é o efeito McGurk? O que essa história do “H” tem a ver com o efeito McGurk?

O efeito McGurk, é um fenômeno sensorial que comprova a interação entre a audição e a visão na percepção da fala. Esse fenômeno, chamado de McGurk Effect em inglês, é uma espécie de ilusão sonora que nos faz ter a certeza de ouvirmos um determinado som mesmo depois de sabermos que outro está sendo tocado. A informação visual que recebemos ao ver alguém falando altera nossa percepção auditiva.

O fenômeno foi descoberto acidentalmente pelos psicólogos Harry McGurk e John MacDonald em 1976, daí o nome efeito McGurk ou ilusão McGurk.

Neste vídeo, produzido pela BBC, vemos o fenômeno na prática. Ele está todo em inglês, mas é muito fácil de acompanhar.

Segue uma breve explicação, que você pode pular, caso você se sinta à vontade para ver o vídeo.

Prévia

Em Horizon: Is Seeing Believing?, você vai ouvir o mesmo áudio várias vezes. O som da palavra bar é repetido à exaustão. Bar, bar, bar… bar, bar, bar… Ouvimos bar quando o vídeo apresentado mostra os lábios do pesquisador se movimentando para reproduzir o som da letra “B”. O mesmo áudio é tocado novamente, mas dessa vez ao mesmo tempo em que assistimos à imagem do pesquisador fazendo o movimento labial para reproduzir o som da letra “F”. Passamos a ouvir far, far, far… far, far, far… Se você estiver duvidando, basta fechar os olhos e você vai ouvir bar. Abra os olhos e você ouvirá far! Assista ao vídeo e tente segurar o queixo!

É impressionante, não é? Esse é o efeito McGurk! Interessante observar que o próprio pesquisador, o Prof. Lawrence Rosenblum, afirma que mesmo tendo estudado o fenômeno há 20 anos, ele continua sentindo o efeito McGurk da mesma forma.

Apelo visual

Estamos mais acostumados às ilusões de ótica, afinal de contas, que atire a primeira lupa quem nunca enfiou a cara em um desses livros com imagens psicodélicas para tentar enxergar outra coisa! Creio que ninguém estranharia tanto um comportamento bizarro se o tema fosse restrito à ótica. Mas uma ilusão sonora? O efeito McGurk comprova, portanto, que o apelo visual se sobrepõe ao auditivo. Ou seja, não importa o que se ouve, nossos olhos ditam o que o cérebro processa e ponto final, mesmo sabendo que o som é, na realidade, outro.

Hipótese

Qual seria então o grau de influência que a palavra impressa exerce na nossa capacidade auditiva e, como consequência, na nossa pronúncia? Não me refiro somente ao papel ou à tela do computador, mas também à imagem mental que projetamos para falar uma palavra em idioma estrangeiro. Você não “enxerga” essa imagem mental e a “lê” em voz alta muitas vezes? Acredito que essa imagem surja em especial quando não nos lembramos de um termo automaticamente e precisamos fazer um esforço adicional.

Além disso, sabemos que as regras fonéticas do idioma inglês são muito diferentes das do português. Também sabemos que só reproduzimos oralmente aquilo que conseguimos identificar e processar por meio da audição. Se não identificamos um determinado som, ele não será reproduzido. Leia o post Vovó e vovô: você confunde os sons das duas palavras? para entender esse fenômeno do ponto de vista de um nativo.

mcgurk

Se está escrito, tenho que falar!

Estaria presente o efeito McGurk em certa medida quando os brasileiros pronunciam as palavras building, climb e talk? Quantas pessoas insistem em pronunciar a letra “U” em build building, mesmo depois de o professor de inglês dizer várias vezes que o “U” é só “enfeite”? Harry, o professor de inglês, a pronuncia várias vezes, o aluno clica no link e ouve o áudio no dicionário Macmillan diversas vezes, mas “jura por Deus” que ouve o som do “U” e solta um /bu iudingui/. O efeito é o mesmo, seja ele um processo consciente ou não. E o que dizer de climb e talk, em que o “B” e o “L” não são pronunciados em inglês, mas quase sempre aparecem na fala dos alunos? Seria o apelo visual da palavra escrita exercendo seu poder absoluto? Se o aluno “ouve” um “L” que não existe, ele invariavelmente irá reproduzi-lo na fala.


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Cf. Harry: a pronúncia de Harry e o R retroflexo

Cf. KEEP CALM: como pronunciar as palavras com L mudo?

Será que poderíamos dizer o mesmo das palavras case, dose e disorder, entre várias outras? Desde a cartilha, Heitor, sabemos que o “S” entre duas vogais tem o som de “Z” (de zebra, lembra?). Logo, pronunciamos /ka Zo/, /do Ze/ e /de Zor dem/, quando dizemos “caso”, “dose” e “desordem” em português, sem susto nem estranhamento. Qual seria o papel do efeito McGurk também nesses casos? Em que medida o efeito McGurk estaria presente quando muitos alunos brasileiros de inglês, sejam eles de nível básico ou avançado, insistem em reproduzir o som do “Z” de “zabumba” nessas palavras da língua inglesa que, claramente, têm as letras “S” pronunciadas com o som de “S” de “sapato”?

Cf. Pronúncia: Caso, Gasolina, Base

Conclusões

Não, não tenho as respostas para as questões levantadas. O texto acima não tem a pretensão de chegar a conclusões sobre a presença ou não do efeito McGurk nos exemplos citados. O intuito é, em primeiro lugar, chamar sua atenção para o fenômeno e, em segundo lugar, fazer com que você tenha maior consciência sobre a maneira que você ouve e pronuncia as palavras da língua inglesa. Espero, portanto, que o texto tenha contribuído de alguma forma para você melhorar seu listening e sua pronúncia, uma vez que você agora está ciente da prevalência do apelo visual em detrimento do apelo sonoro. Mais do que não deixar que o efeito McGurk atrapalhe seu desenvolvimento da língua inglesa, use-o a seu favor.

Cf. Como pronunciar as palavras em inglês?

Cf. WhatsApp: qual é a pronúncia correta de WhatsApp?

Cf. Como melhorar o listening? A dica que você nunca ouviu…

Speak up! We’re listening…

O que você achou do artigo de hoje sobre o efeito McGurk? Você já o conhecia? Você acha que o artigo foi útil para você de alguma forma melhorar seu listening e a sua pronúncia? Ou você acha que o efeito McGurk é bruxaria? 😉 Por favor, participe do diálogo na seção de comentários abaixo. Sua participação é muito importante mesmo! Muito obrigado pelo interesse.

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Pela educação…

Se você achou legal conhecer o efeito McGurk, tenho certeza de que muitos de seus amigos também vão gostar de conhecer o fenômeno. Compartilhe informação educacional clicando no ícone de sua rede social preferida. Muito obrigado pela participação!

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Selma
Selma
6 anos atrás

Excelente artigo!! agora entendo porque se eu ler um texto antes de ouvi-lo, consigo compreender muito mais do que quando ouço antes de ler. Isso me deixava chateada porque em um diálogo comum não existe leitura prévia né?
Estou amando as aulas, as músicas. Pena que tenho pouco tempo, não consigo me dedicar como gostaria.

Claudio Ramos de Gouvea
Claudio Ramos de Gouvea
6 anos atrás

Excelente vídeo. Eu que já sou seu seguidor no “Tecla SAP”, fiquei admirado com a explanação sobre esse impressionante efeito. Parabéns! Obrigado!

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Ulisses Wehby de Carvalho

Como vai, Murilo?

Muito obrigado pela colaboração e pelas palavras simpáticas sobre o trabalho do Tecla SAP. Espero que você comente mais vezes.

Abraços

Sidney Pedro da Silva
Sidney Pedro da Silva
7 anos atrás

Que post fantástico! Meticuloso e detalhista do jeito que sou, este artigo me despertou sensivelmente para um olhar “fora da caixa”, ou melhor, “fora de mim mesmo”, com uma percepção mais apurada ainda, pois sou muito exigente comigo mesmo, mas nada tolhedor pois como foi dito, usarei o efeito McGurk a meu favor e até mesmo observando mais ainda as outras pessoas. Em minha opinião, chego à conclusão, também, de que este é um bom motivo para se começar a aprender uma língua estrangeira o quanto antes, para evitar a influência dos padrões da língua nativa do estudante, como exemplificado no caso do “s”. Bela matéria; eu não a conhecia, agora estou quase “crazy”, fissurado por esse assunto, essa idéia. Muito obrigado!

Ulisses Wehby de Carvalho

Sidney, tudo bem?

Muito obrigado pelo feedback. Fico muito contente em saber que o Tecla SAP foi de certa maneira o catalisador para despertar o interesse pela reflexão sobre o tema. Volte sempre!

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho

Débora, tudo bem?

Muito obrigado pelo comentário gentil e também pela força na divulgação do trabalho do Tecla SAP. É muito gratificante saber que o conteúdo está sendo multiplicado para tanta gente.

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho

Carol, tudo bem?

Muito obrigado pela participação. Digite “pronúncia” no campo de busca para conferir as dezenas de textos e macetes que tratam do assunto. Bons estudos!

Abraços

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Ulisses Wehby de Carvalho

Hi Poliana,

Now that you know it happens to everyone there’s no need to feel bad. Thanks for the feedback.

Take care

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Ulisses Wehby de Carvalho

Olavo, blz?

Estamos na área de comentários. Esta é uma resposta ao seu “comentário” anterior.

Um “guest post” é um artigo completo que será assinado por autor/a convidado/a. Seguem dois exemplos de guest posts publicados aqui no Tecla SAP.

O primeiro é do Rafa Cury: https://www.teclasap.com.br/jogos-online-como-ferramenta-para-estudar-ingles/

O segundo é do Diego Cassiolato: https://www.teclasap.com.br/5-motivos-para-aprender-ingles-com-musica/

Há alguns requisitos que são adotados por grande parte dos blogs. O texto…

1) precisa ser inédito,
2) não deve ser republicado em outros sites/blogs,
3) deve ter, no mínimo, 300 palavras.

As vantagens são diversas. Seguem algumas:

Para o blog e seus leitores regulares
* Conteúdo de qualidade com estilo, enfoque, ponto de vista etc. diferentes do habitual

Para o/a autor/a convidado/a
* Acesso a público novo ao qual ele/a não teria acesso
* Divulgação de seu blog/site/perfil nas redes sociais (é praxe a inclusão de um link no rodapé do “guest post”)

Acho que é isso. Se quiser mais detalhes, a gente conversa por e-mail .

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho

Olavo, tudo bem?

Obrigado pela gentileza de comentar e também pelo elogio pela escolha do tema. É sempre muito bom poder contar com a opinião de quem é do ramo.

Estou contente em saber que o texto cumpriu seu papel de provocar o debate de ideias. Fique à vontade para, se achar conveniente, escrever um “guest post” sobre a questão. As portas do Tecla SAP estão abertas para você.

Abraços

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